Além da disputa por ministérios, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) terá de decidir uma série de nomeações para estatais e cargos de segundo escalão.
Embora o petista ainda não tenha definido quem chefiará as pastas da Esplanada, aliados já começaram a traçar cenários para essa segunda cota de postos também a ser resolvida.
Figuram na lista de órgãos cobiçados Petrobras, Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) e BNDES, entre outros.
Mesmo fora da cúpula dos ministérios, secretarias executivas e temáticas têm poder de decisão e movimentam quantias elevadas de dinheiro.
O cenário de quem assumirá esses cargos de segundo escalão ainda está nebuloso porque as nomeações precisam passar pelo crivo dos ministros, ainda não definidos, mas há uma certeza entre interlocutores de Lula: as indicações poderão servir para contemplar os partidos aliados e os que vierem sem muita representatividade no primeiro escalão.
Uma orientação que tem sido repetida por aliados próximos de Lula é que não haverá “porteira fechada”, isto é, o partido que chefiará a pasta não poderá indicar os demais cargos. Os ministros, porém, não serão também uma rainha da Inglaterra, sem ingerência sobre a própria equipe.
No governo Jair Bolsonaro (PL), a maioria dessas funções foi distribuída a integrantes do grupo de partidos conhecido como centrão como estratégia do mandatário para conseguir o apoio dessas siglas e construir uma ampla base no Congresso.
O apetite dessas legendas pelos cargos continuará, provavelmente, no governo Lula, que tenta compor em algum nível com parlamentares. O petista terá, porém, de contemplar o próprio PT, que deverá ficar alijado de cargos que considera importante.
Um dos nomes que aparecem na bolsa de apostas prévia é o do governador de Pernambuco, Paulo Câmara. Aliado de Lula, ele é cotado para chefiar um ministério, mas tem consciência de que talvez o PSB não tenha força para lhe garantir uma vaga no primeiro escalão do governo.
Por isso, aliados trabalham, como plano B, com a ideia de que ele possa assumir o comando da Codevasf.
O órgão é alvo de cobiça da classe política por ser responsável por empreendimentos de grande impacto na população, como obras de pavimentação, construção de pontes, saneamento básico, entrega de máquinas e equipamentos, entre outros.
Exatamente por isso, há quem aposte que Câmara não terá facilidade nessa negociação porque o centrão deverá tentar se manter à frente da estatal.
O grupo que controla o Congresso assumiu o órgão no governo Bolsonaro e já deu indícios nos bastidores de que não pretende abrir mão do posto. Neste ano, o orçamento da companhia é de R$ 1,7 bilhão.
O diretor-presidente, Marcelo Andrade Moreira Pinto, foi indicado pelo DEM. Já o diretor de Revitalização de Bacias Hidrográficas, Davidson Tolentino, é próximo de Ciro Nogueira, atual chefe da Casa Civil.
Em fim de mandato, o senador Paulo Rocha (PT-PA), por exemplo, é apontado como cotado para comandar a Sudam. O órgão é ligado ao Ministério do Desenvolvimento Regional e atua na Amazônia Legal.
Rocha é paraense e dirigir a estatal o ajudaria a manter influência e destaque na região.
Em outra frente, trabalhadores da Petrobras pressionam a presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR), pela nomeação do senador Jean Paul Prates (PT-RN) no comando da estatal. Ele é considerado um nome natural para chefiar tanto a companhia como o Ministério de Minas e Energia, mas funcionários o preferem na empresa.
Petistas dizem que o partido tem uma dívida com Prates, que desistiu da disputa ao Senado em outubro por causa de acordo regional para fortalecer a reeleição da governadora Fátima Bezerra (PT).
Outros nomes citados para a Petrobras são o do governador Rui Costa (Bahia) e o de Magda Chambriard –que já comandou a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
Cenário também traçado é colocar o ex-secretário de Educação do município e do estado de São Paulo Gabriel Chalita para dirigir o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).
Ele é aliado de Geraldo Alckmin (PSB-SP) e foi um dos articuladores da aliança entre Lula e o vice-presidente eleito.
A ideia de Chalita ir para o FNDE ganha força caso ele não consiga assumir o Ministério da Educação. A pasta também é disputada pela governadora do Ceará, Izolda Cela.
Próximo também do ex-prefeito Fernando Haddad (PT-SP), Chalita foi nomeado para o grupo da transição que trata do tema.
O ex-ministro Aloizio Mercadante, que coordena os trabalhos na transição, é apontado para uma série de pastas, mas também para o Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES).
Outro nome do PSB que está no páreo para assumir um posto de destaque no governo é o de Alexandre Navarro. Integrante do grupo da transição que trata de Ciência e Tecnologia, é cotado para ser o número dois da pasta no próximo governo.
Ele já foi secretário-executivo do ministério e também do Ministério da Integração Nacional e presidiu a Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap) quando Rodrigo Rollemberg (PSB) foi governador do Distrito Federal.
É tido como um dos homens de confiança da direção do partido socialista e com perfil técnico, o que também agrada a nomes importantes do PT.
Dentro do PT, aliás, há uma disputa pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário. A pasta deve ser recriada por Lula e tem interlocução com setores importantes do partido, como aquele ligado ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.
Para o ministério, um dos cotados é o deputado estadual Edegar Pretto (PT), derrotado na disputa pelo Governo do Rio Grande do Sul neste ano. O ex-ministro Miguel Rossetto (PT) é outro nome aventado para o posto.
O deputado Milton Coelho (PSB-PE) é apontado como uma possibilidade para chefiar a Fundação Nacional da Saúde (Funasa) ou o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).
Por Folha de S.Paulo