O presidente Lula (PT) defenderá a virada de página do ódio e intolerância pelos brasileiros em seu pronunciamento de Natal, que irá ao ar neste domingo (24), véspera da data. O tom do discurso destoa de declarações dadas pelo petista em eventos, que apontam em sentido contrário.
A ideia da fala é passar uma mensagem de união e de otimismo, com balanço da retomada de políticas públicas e a expectativa de melhora na economia em 2024.
O pronunciamento em cadeia de rádio e TV está previsto para durar ao menos cinco minutos, sendo o mais longo entre os dois anteriores que fez no primeiro ano de seu terceiro mandato. Segundo relatos, Lula gravou três versões de vídeos.
Aliados do presidente lembram que o lema de seu primeiro ano é o da reconstrução e o da união. A véspera do Natal será o ensejo para que o presidente defenda a superação de desavenças políticas dentro das famílias brasileiras.
Lula já vinha pedindo em muitas falas que as famílias deixassem de lado as brigas ideológicas e voltassem a se unir, em particular nas festas de fim de ano.
Essa postura, no entanto, contrasta com outros discursos, no qual mantém ataques ao seu antecessor, Jair Bolsonaro (PL), e seus apoiadores, e assim segue estimulando a polarização política.
A uma plateia de candidatos do partido, no último dia 17, Lula disse: “Não pode aceitar provocação nem ficar com medo. Quando o cachorro late para a gente, a gente não baixa a cabeça, a gente late para ele também”.
Dois dias antes, em inauguração de um contorno rodoviário na BR-101 em Serra (ES), o petista elevou o tom dos ataques e chamou o ex-presidente de “facínora” e “aquela coisa”, além de acusar o adversário político de “usar a fé dos evangélicos”. Lula também já chamou Bolsonaro de “gente ruim” por liderar um governo que “gostava de brigar”.
Na linha de buscar a união, a Secom (Secretaria de Comunicação) lançou campanha neste fim de ano com slogan de “somos um só povo, um só país”, que será reproduzido na mensagem natalina do petista. Dentre os vídeos, há menção à retomada do programa Farmácia Popular, por exemplo, e à reconciliação de um pai e filha, de opiniões diferentes, com a entrada da jovem na universidade.
O chefe do Executivo também deve mencionar os ataques de 8 de janeiro para reforçar que a democracia saiu vitoriosa neste ano, após o atentado às instituições. O governo prepara um grande evento no Senado, com presidentes dos três Poderes e autoridades para marcar o aniversário do evento em Brasília.
Lula também deve seguir a tradição dos pronunciamentos de fim de ano para realizar um balanço das ações. Focará a retomada e novo impulso dado aos programas sociais, como o Bolsa Família e o Minha Casa Minha Vida.
O mandatário repetiu algumas vezes nos últimos dias que o governo já obteve avanços no primeiro ano do terceiro mandato, mas que os resultados principais das “sementes que foram plantadas” ainda não surgiram, indicando um otimismo com o futuro. Esse tom será retomado em seu pronunciamento.
Ainda em relação ao otimismo, Lula vai mencionar as perspectivas para o Brasil em relação à transição energética e a questão ecológica. O governo petista vem alardeando que o país tem a possibilidade de se tornar uma referência nessas questões, uma Arábia Saudita da energia verde.
A primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, não participará do pronunciamento. Nos anos de 2020 e 2021, Bolsonaro inovou ao incluir fala de Michelle Bolsonaro, como maneira de diminuir a sua rejeição. Pesquisas mostravam que a então primeira-dama era bem avaliada pelo público.
Os dois outros momentos em que Lula falou em cadeia de rádio e TV em 2023 foram às vésperas do Dia do Trabalho, 1º de maio, e também antes das festividades do Dia da Independência.
O pronunciamento na proximidade do 7 de Setembro já havia sido marcado pelo pedido de união e superação do ódio. “Amanhã não será um dia nem de ódio, nem de medo, e sim de união. O dia de lembrarmos que o Brasil é um só. Que sonhamos os mesmos sonhos”, afirmou o presidente na ocasião.
Naquele momento, no entanto, não houve uma menção direta aos eventos de 8 de janeiro. Isso porque avançavam as investigações contra militares, e o governo almejava reconstruir uma boa relação com as Forças Armadas.
Folha de S.Paulo