A violência armada na região metropolitana do Recife foi marcada pelo alto número de vítimas em janeiro: 97% dos tiroteios mapeados ao longo do mês resultaram em baleados, segundo relatório mensal do Instituto Fogo Cruzado. Uma parcela da população das cidades foi especialmente atingida pela violência: egressos do sistema prisional, mortos em diferentes situações.
Em janeiro, 27 ex-detentos foram atingidos por disparos de arma de fogo na região metropolitana. Nenhum deles sobreviveu. Em janeiro de 2022, foram 21 ex-detentos baleados: somente cinco sobreviveram.
Entre as vítimas baleadas, muitos estavam trabalhando, como Carlos Daniel, de 24 anos, morto em Jaboatão dos Guararapes, no dia 17. Carlos, que era catador, trabalhava no pátio da feira livre de Prazeres, quando foi atingido com um tiro na cabeça.
No dia 15, Saulo Henrique de Lima, de 31 anos, foi morto a tiros em Nossa Senhora da Luz, em São Lourenço da Mata. Ele trabalhava como motorista de aplicativo e foi morto com mais de 10 tiros na Rua Colégio Padre Jesuíta, no próprio carro.
Para Ana Maria Franca, coordenadora regional do Instituto Fogo Cruzado em Pernambuco, exemplos como os de Carlos Daniel e de Saulo mostram como as sucessivas falhas na segurança pública não garantem aos ex-detentos um futuro longe da violência. “Pernambuco segue uma lógica muito clara de acertos de contas. Muitas vezes os ex-detentos não têm nem a chance de retomarem suas vidas dignamente após pagarem por seus crimes. A reinserção no mercado de trabalho é uma possibilidade de quebrar ciclos de violência, mas por aqui vemos que em muitos casos a saída se dá pelo trabalho informal, que coloca esse indivíduo em risco e sem garantias”, afirma Ana.
Entre os 27 ex-detentos baleados no mês, cinco foram atingidos na própria casa. Em quatro casos, pessoas próximas ou que passavam perto também foram vítimas dos tiros. Kleberson Alves da Silva, de 21 anos, foi morto a tiros no dia 20 de janeiro, em frente de casa no Alto das Pedrinhas, em Nova Descoberta, Recife. Na ação, a mãe de Kleberson também foi baleada, mas sobreviveu.
“Dados como os do Fogo Cruzado servem de ferramenta para que políticas públicas e soluções sejam pensadas para esse problema específico que afeta o conjunto da população, porque o acerto de contas também coloca a população em risco. É preciso impedir que acertos de contas sejam sempre resolvidos à bala, expondo ao risco ainda as pessoas que estão ao redor. É preciso que o Estado invista em ressocialização para que essas pessoas possam retomar suas vidas com dignidade e para que não voltem para o crime”, avalia a coordenadora.
São Lourenço da Mata
A violência armada também tem marcado o município de São Lourenço da Mata. O número de tiroteios na cidade pulou de três, em janeiro de 2022, para oito, em janeiro de 2023. O número de baleados também cresceu de três para nove.
O mês em dados
O primeiro mês de 2023 concentrou 147 tiroteios na região metropolitana do Recife, segundo relatório mensal do Instituto Fogo Cruzado. Número revela uma ligeira queda de 7% em comparação com janeiro de 2022, que acumulou 158 tiroteios.
Ao todo, 156 pessoas foram baleadas. Entre as vítimas, 115 morreram e 41 ficaram feridas. Número de mortos se manteve estável, e o de feridos teve queda de 32% em comparação com janeiro de 2022, que acumulou 177 baleados, sendo 115 mortos e 62 feridos.
Em comparação com dezembro de 2022, que acumulou 132 tiroteios, 111 mortos e 158 feridos, janeiro de 2023 apresentou aumento de 11% nos tiroteios e de 4% no número de mortos, mas teve queda de 13% na quantidade de feridos.
Entre as datas mais afetadas pela violência armada em janeiro, os dias 15, 17 e 30 tiveram o maior número de tiroteios, com 10 registros, cada. O dia 15 concentrou o maior número de mortos com 10 vítimas. E os dias 11, 15, 17, 23 e 30 tiveram o maior número de feridos, com quatro vítimas, cada.
O mapa da violência armada
Os municípios mais afetados pela violência armada em janeiro foram:
Recife: 52 tiroteios, 39 mortos e 14 feridos
Jaboatão dos Guararapes: 29 tiroteios, 21 mortos e 12 feridos
Olinda: 18 tiroteios, 16 mortos e 4 feridos
Cabo de Santo Agostinho: 10 tiroteios, 6 mortos e 4 feridos
São Lourenço da Mata: 8 tiroteios, 7 mortos e 2 feridos
Os bairros mais afetados pela violência armada foram:
Jardim Jordão (Jaboatão dos Guararapes): 6 tiroteios, 2 mortos e 4 feridos
Prazeres (Jaboatão dos Guararapes): 6 tiroteios, 3 mortos e 3 feridos
Cajueiro Seco (Jaboatão dos Guararapes): 5 tiroteios, 5 mortos e 2 feridos
Ponte dos Carvalhos (Cabo de Santo Agostinho): 4 tiroteios, 2 mortos e 2 feridos
Brejo da Guabiraba (Recife): 4 tiroteios, 3 mortos e 1 ferido
Macaxeira (Recife): 4 tiroteios, 3 mortos e 1 ferido
O perfil da violência armada
Entre os 115 mortos por arma de fogo em janeiro, 96% (110) eram homens e 4% (5) eram mulheres. Entre os 41 feridos, 85% (35) eram homens e 15% (6) eram mulheres.
Em janeiro, 24 pessoas foram baleadas quando estavam dentro de casa: entre as vítimas, 22 morreram (20 homens e duas mulheres) e duas ficaram feridas (todas as vítimas eram homens). Em janeiro de 2022, 25 pessoas foram baleadas dentro de casa. Entre as vítimas, 18 morreram (17 homens e uma mulher) e sete ficaram feridas (quatro homens e três mulheres).
Houve quatro casos de homicídios múltiplos em janeiro no Grande Recife que deixaram oito mortos no total. Em janeiro de 2022, foram 12 casos de homicídios múltiplos que deixaram 24 mortos no total.
Ao todo, 14 pessoas foram baleadas em casos de roubos ou tentativas de roubo que terminaram em tiros: cinco morreram e nove ficaram feridas. Em janeiro de 2022 foram 11 baleados no total (três mortos e oito feridos).
Uma criança foi baleada em janeiro de 2023 e sobreviveu. Em janeiro de 2022 também houve uma criança baleada no Grande Recife que sobreviveu. 10 adolescentes foram baleados em janeiro de 2023: seis morreram e quatro ficaram feridos. Em janeiro de 2022, foram 12 adolescentes baleados (nove morreram e três ficaram feridos). Um idoso foi baleado em janeiro de 2023 e sobreviveu. Em janeiro de 2022, um idoso foi morto a tiros.
Seis pessoas foram vítimas de balas perdidas no Grande Recife: duas morreram e quatro ficaram feridas. Em janeiro de 2022, sete pessoas foram atingidas por balas perdidas: duas morreram e cinco ficaram feridas.
Dois agentes de segurança foram baleados no Grande Recife em janeiro de 2023 e sobreviveram. Em janeiro de 2022, também houve dois agentes de segurança baleados (um morreu e um ficou ferido).
Dois motoristas de aplicativo foram mortos a tiros. Em janeiro de 2022 não houve motoristas de aplicativo baleados.
Um motoboy/entregador foi morto a tiros em janeiro de 2023 no Grande Recife. Em janeiro de 2022, houve três motoboys/entregadores baleados: dois morreram e um ficou ferido.
Um vendedor ambulante foi morto a tiros em janeiro de 2023 no Grande Recife. Em janeiro de 2022, não houve vendedores ambulantes baleados.
Por Pernambuco Notícias