A eliminação do Brasil da Copa do Mundo de 2022, após a derrota para a Croácia nos pênaltis, adia mais uma vez o sonho do hexacampeonato. Foi a segunda queda consecutiva da seleção brasileira nas quartas de final da Copa, a exemplo da derrota para a Bélgica em 2018, ambas sob o comando do técnico Tite que cometeu erros, neste jogo, nos embates anteriores e na preparação para o Mundial, que acabaram se mostrando decisivos.
Veja a seguir uma lista de seis erros que frustraram o projeto do hexa no Catar:
1 – Mexidas na prorrogação
Depois de abrir o placar na prorrogação contra a Croácia, com um golaço de Neymar, o Brasil foi para o intervalo do tempo extra precisando segurar o resultado por mais 15 minutos. Tite sacou o lateral-direito Eder Militão para lançar Alex Sandro, que atua pela esquerda, deslocando Danilo, que vinha atuando desde o início do jogo na canhota, para sua posição original.
Pouco depois, o treinador da Croácia, Zlatko Dalic, lançou o ponta-esquerda Orsic, que arrancou com espaço pelo lado direito da defesa brasileira, sem que Danilo – que estava desgastado e já tinha levado cartão amarelo — conseguisse marcá-lo. A jogada gerou um cruzamento rasteiro para a área brasileira, que Petkovic concluiu para empatar o jogo e forçar os pênaltis.
Outra mexida feita por Tite na prorrogação foi a entrada do meia Fred no lugar de Lucas Paquetá. O lance do gol croata nasceu de um ataque desperdiçado pelo Brasil no lado direito, em que Fred e o atacante Pedro, que havia entrado no segundo tempo, não se entenderam e acabaram desarmados. No momento em que a Croácia recuperou a bola, Fred, embora tivesse a função de reforçar o meio-campo, era o jogador mais adiantado do Brasil, deixando espaços na proteção à zaga.
2 – Neymar sem bater pênalti
No momento de definir a ordem dos batedores, Neymar, o cobrador oficial de pênaltis da seleção, não foi selecionado para as cobranças iniciais. A ordem levada pelo Brasil foi com Rodrygo, Casemiro, Pedro e Marquinhos. Neymar seria o quinto e último a bater.
Rodrygo e Marquinhos erraram suas cobranças, a Croácia converteu todas as penalidades que cobrou, inclusive com seu camisa 10, Luka Modric, e o Brasil foi eliminado sem que o jogador considerado seu melhor batedor fosse utilizado.
3 – Convocação com buracos em posições importantes
Ao convocador mais jogadores de ataque do que opções para a defesa, Tite assumiu o risco de uma escassez de peças para momentos decisivos. Foi o que aconteceu: com o corte de Alex Telles, lateral-esquerdo reserva, e a lesão de Alex Sandro, o titular, que retornou nas quartas de final sem condições de atuar por 90 minutos e começou no banco, o Brasil exigiu demais de Danilo, deslocado da direita para a esquerda, e Eder Militão.
Na prorrogação, Tite trocou Militão por Alex Sandro e tinha como principal alternativa para descansar Danilo o lateral-direito Daniel Alves, convocado sob muitas críticas por não disputar uma partida oficial desde setembro e por vir atuando no futebol mexicano. O treinador acabou não colocando Daniel Alves, e optou por mexer em outros setores.
4 – Alternativas ofensivas
Desde a primeira fase, a seleção brasileira vinha apresentando dificuldades para encontrar espaços contra adversários que vinham mais fechados. Foi o caso da estreia contra a Sérvia, da vitória apertada sobre a Suíça e do embate contra a Croácia. A exceção foi o duelo contra a Coreia do Sul nas oitavas de final, em que o Brasil encarou um rival pouco conservador na defesa e fez quatro gols no primeiro tempo.
Nos dois primeiros jogos da fase de grupos, contra Sérvia e Suíça, o Brasil dependeu de lances individuais de Vinicius Jr., Neymar e Rodrygo, além de aparições do volante Casemiro como elemento surpresa no ataque. Contra a Croácia, houve oportunidades cara a cara defendidas pelo goleiro Livakovic, até que Neymar criou uma brecha no miolo da zaga croata para abrir o placar na prorrogação.
Mesmo com as dificuldades para furar a defesa da Croácia, Tite trouxe menos variações ofensivas neste jogo do que sugeria ser capaz, considerando o leque de formações táticas testadas no ciclo pré-Copa. Ao trocar Vinicius Jr. e Raphinha por Rodrygo e Antony, respectivamente, o Brasil manteve a aposta em jogadores abertos pelas pontas tentando criar situações de duelo no mano a mano com os laterais croatas.
Antony foi o jogador mais insinuante no segundo tempo e na prorrogação, quase sempre em arrancadas e lances individuais, nos quais logo era cercado por mais de um jogador croata e precisava atrasar o lance.
A troca de Richarlison por Pedro tampouco alterou a dinâmica do ataque brasileiro, que seguiu dependente da criatividade de seus principais jogadores. A mesma tônica da fase de grupos.
5 – “Furos” na relação entre torcida e seleção
A polêmica gerada pela “carne de ouro”, consumida por jogadores numa das folgas da seleção brasileira no Catar, foi apenas o último capítulo de uma relação nem sempre harmônica entre o elenco da seleção e a torcida. Embora Tite tenha se preocupado em blindar o ambiente da seleção, especialmente em meio à polarização eleitoral que envolvia o uso da camisa verde e amarela no país ao longo de 2022, houve brechas nessa blindagem.
Uma dessas brechas apareceu antes da Copa. Embora Tite tenha afirmado que os jogadores permaneceriam focados na Copa do Mundo para evitar que a seleção se contaminasse com o clima das eleições, Neymar apareceu dias depois em uma live prometendo comemorar um gol em homenagem ao presidente Jair Bolsonaro, o que despertou simpatias e antipatias na mesma intensidade envolvendo a participação do Brasil na Copa.
Durante a Copa, após a lesão de Neymar, alguns jogadores se manifestaram de forma crítica a torcedores que estariam “comemorando” o desfalque do craque. Um deles foi o atacante Raphinha, que não teve atuações no nível esperado nesta Copa. A relação entre jogadores e torcida não chegou a ser de inimizade — longe disso –, mas sofreu alguns arranhões desnecessários.
6 – Preparação sem jogos “pesados”
Um erro que não se restringe a Tite, mas à comissão técnica como um todo e à CBF, foi o de não conseguir agendar jogos contra seleções “cascudas” na preparação para a Copa. O calendário europeu, é verdade, foi o maior problema: com as seleções da Europa envolvidas na Liga das Nações, faltaram datas disponíveis para amistosos com equipes sul-americanas.
O Brasil, no entanto, acabou também “perdendo” uma oportunidade de jogar contra a Argentina, rival mais forte na América do Sul, com o jogo pelas eliminatórias suspenso em meio à pandemia da Covid-19 e envolvido em tentativas frustradas de ser remarcado.
Sem jogos “pesados”, o Brasil teve seus primeiros embates contra seleções de primeira linha fora da América do Sul apenas na Copa do Mundo do Catar. E acabou caindo quando enfrentou seu maior desafio até aqui, a Croácia — uma seleção que, apesar de forte, ainda assim está um degrau abaixo de potências como França e Inglaterra.
Via PE Notícias