Qual será a próxima embaixada em Brasília onde Jair Bolsonaro vai dormir? Todo mundo sabe que ex-presidentes da República com passaporte apreendido costumam dormir em embaixadas.
É a coisa mais natural do mundo. Jair Bolsonaro foi discutir o contexto internacional com o embaixador da Hungria, a conversa se alongou — e ele acabou passando duas noites na representação estrangeira. No meio tempo, chamou até pizza, provavelmente por não gostar de goulash.
Na saída do Teatro Municipal de São Paulo, onde Michelle Bolsonaro recebeu o título de cidadã paulista por obra de um vereador que descumpriu decisão Judicial, Jair Bolsonaro foi perguntado por jornalistas sobre os pernoites húngaros.
“Eu não vou te responder porque tem muita senhora aqui. Não há crime nenhum isso. Porventura, dormir na embaixada, conversar com embaixador, tem algum crime nisso? Tenha santa paciência, chega de perseguir, pessoal. Quer perguntar da baleia? Vamos falar da Marielle Franco. Eu passei seis anos sendo acusado de ter matado a Marielle Franco. Acabou o assunto agora? Vamos falar dos móveis do Alvorada?”, disse o ex-presidente.
Visitar embaixada, dormir em embaixada e até pedir asilo em embaixada, nada disso é crime. No entanto, tratar o episódio como se fosse a coisa mais natural do mundo é um insulto à inteligência dos brasileiros. Não que os brasileiros primem pela inteligência. Mas deveria haver limites para eles serem insultados mesmo no seu QI médio de 83 pontos.
Mentir faz parte das atribuições profissionais de qualquer político desde sempre. Acho que foi Juvenal quem disse: “Que hei de fazer em Roma? Não sei mentir”. Só que os políticos brasileiros exageram, não apenas Jair Bolsonaro. Lula, por exemplo, nunca soube de nada.
Políticos brasileiros mentem demais e cabeludamente. Políticos brasileiros também têm princípios moldáveis, o que equivale a não ter princípio nenhum.
Eduardo Bolsonaro, por exemplo, arroga-se o papel de defensor da liberdade de expressão. No entanto, agora ele levanta suspeitas sobre o New York Times, que publicou a história do pai dele na embaixada da Hungria.
O guerreiro foi ao X para perguntar sobre as imagens publicadas pelo jornal: “Serviço de inteligência de algum país? Hacker a serviço de que? Por que um assunto do Brasil e Hungria foi vazado de um jornal esquerdista americano? Somos tão ingênuos assim?”
Não passa pela cachola de Eduardo Bolsonaro que jornalista, esquerdista ou direitista, não tem de revelar fontes. E que toda fonte só fornece informação porque tem interesse nisso. Os Bolsonaro, inclusive, fazem parte do rol de fontes de jornalistas.
Cabe ao jornalista verificar a veracidade da informação e também se há interesse público na divulgação do que lhe foi passado pela fonte. Os repórteres seguiram fielmente a cartilha no caso de Jair Bolsonaro e os seus pernoites húngaros, a coisa mais natural do mundo.
Via: Metrópoles