O restaurante Caipirão e a padaria Cozinha de Sabores, em Cuiabá (MT), têm um novo “produtos” em seus cardápios: dinheiro. Dono de ambos, o empreendedor Rodiney de Almeida, de 44 anos, decidiu atender pedidos dos clientes e aderir às novas modalidades do Pix: Pix Saque e Pix Troco.
Elas permitem que consumidores obtenham dinheiro em espécie em estabelecimentos comerciais em vez de ficar procurando um caixa eletrônico de banco. As operações estão crescendo não apenas nos negócios de Almeida, mas em todo o país, segundo dados do Banco Central (BC).
Lançados em dezembro, o Pix Saque e o Pix Troco ainda estão engatinhando. Somaram R$ 41,1 milhões em 290 mil operações em quatro meses, mas o crescimento está acelerando. Foram R$ 17,7 milhões só em março, 37 vezes o registrado no primeiro mês de operação.
Técnicos do BC e especialistas acreditam que é só o começo. As duas modalidades são convenientes para consumidores e de fácil adesão para os lojistas, que podem usar as facilidades para atrair clientes e ainda ganhar com as taxas pagas pelos bancos. A novidade renova a disputa entre bancos e fintechs (as startups financeiras) pelas contas dos empreendedores.
— Na correria, as pessoas não têm tempo de parar no banco, no caixa eletrônico. Quando estão no restaurante, sempre pedem para pagar mais no cartão para levar algum dinheiro. No começo, fui um pouco resistente, mas depois topei para deixar o cliente mais satisfeito, diz Almeida.
Dinâmica das maquininhas
A possibilidade de tornar qualquer caixa registradora de loja um caixa eletrônico, à primeira vista, é o grande trunfo de Pix Saque e Troco. No entanto, eles também ampliam a integração de pequenos negócios ao Pix e começam a provocar mudanças no sistema financeiro.
Bancos de todos os portes se preparam para uma nova “guerra” pelas contas das empresas, tendo gestão integrada do Pix e remuneração das operações como novas armas para tirar clientes pessoas jurídicas dos concorrentes.
Assim como ocorre no saque em caixas eletrônicos, os clientes têm direito a oito retiradas por Pix Saque e Troco por mês sem tarifa. Mas, de qualquer maneira, os bancos de quem saca pagam uma taxa aos estabelecimentos comerciais pelo serviço.
Varia de R$ 0,25 a R$ 1 por retirada, depende das condições oferecidas pela instituição intermediária ao comerciante. Eduardo Bruzzi, sócio da área de Payments, Banking e Fintech do BBL Advogados, vê um paralelo no que já ocorreu no mercado de pagamentos das chamadas “maquininhas”:
— Há um benefício econômico para quem (instituição financeira) trabalha com conta pessoa jurídica, que é um cliente mais qualificado e rentável. O mercado de adquirência tem uma grande disputa pela clientela na definição da tarifa que é cobrada na “maquininha”, e algo similar ocorrerá o Pix Saque e Troco, porque é mais um elemento no pacote.
Cleber Martins, consultor de Operações da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), vê no Pix algo capaz de ampliar a concorrência entre instituições:
— Vai ter espaço para bancos, fintechs e financeiras, desde que seja oferecida uma experiência completa para a pessoa jurídica. Hoje, esses serviços estão fragmentados, mas tem o Open Banking (sistema de compartilhamento de dados dos clientes entre instituições), que acaba conectando tudo isso de forma mais integrada, ainda que talvez mereça um ajuste do regulador.
Murillo Restier, diretor de Produtos Multiadquirentes da Fiserv, empresa que fornece soluções de pagamentos, explica que, hoje, quando um comerciante escolhe um banco para ter sua conta empresarial, sua chave Pix é vinculada a essa instituição.
Mas para oferecer Pix Saque e Troco no estabelecimento, o empresário precisa de outro intermediário — e por enquanto, só seis bancos estão habilitados no país para este papel. Assim, a popularização das modalidades de saque do Pix pode gerar um movimento de “leilão” dos bancos pelos clientes pessoas jurídicas centrado no repasse das taxas em cada operação.
Via PE Notícias