Muito comum hoje em todo o Brasil, disponível em peixarias e restaurantes, a tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus) é uma espécie de peixe considerada exótica e invasora, já que é originária da África, e foi introduzida no país por volta da década de 30.
A tilápia é uma das espécies mais populares da aquicultura, a criação de peixes, crustáceos e moluscos em tanques-redes, mantidos na água de rio, de lago ou do mar, ou em tanques escavados, reservatórios artificiais feitos no solo.
Todavia, nos últimos anos tilápias têm sido encontradas na costa brasileira, em água salgada. E isso não é um bom sinal! O alerta foi dado por pesquisadores brasileiros em um artigo científico divulgado na publicação internacional Aquatic Ecology.
Segundo a análise do grupo, já foram feitos registros de cardumes de tilápias no litoral do Maranhão, Espírito Santo, São Paulo, Santa Catarina e Rio de Janeiro. Neste último, a espécie foi documentada em Arraial do Cabo, onde a água é notoriamente gelada e salgada.
Os cientistas explicam, todavia, que a tilápia pertence à família dos ciclídeos, um dos últimos grupos marinhos que migraram para a água doce. Seus ancestrais viviam no mar e por isso, a espécie pode ter mais facilidade em se readaptar à água salgada.
Mas de onde essas tilápias encontradas na costa do Brasil estão surgindo? Apesar de não existir uma análise genética dos animais encontrados, uma das principais hipóteses é de que elas são provenientes de escapes de criação.
“O primeiro ponto é investigar de onde elas vieram. É preciso fazer a coleta dessas tilápias e descobrir de onde elas são provenientes e aí responsabilizar quem deixa escapar, algo com o qual o governo não tem se preocupado”, diz o biólogo Jean Vitule, professor de Ecologia do Departamento de Engenharia Ambiental da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e um dos co-autores do artigo.
Ele explica que diversos estudos internacionais comprovam que a partir de um ponto, quando uma espécie invasora já conseguiu se estabelecer e está se reproduzindo em grande escala, é impossível deter essa invasão. Por isso está sendo feito o alerta com antecedência.
Essa não é a primeira vez que os especialistas advertem sobre como a piscicultura precisa de mais regulamentação e fiscalização no Brasil. E apesar disso, ela vem crescendo cada vez mais.
“A tilápia é apenas a ponta do iceberg de um problema mais grave”, afirma Vitule. “A questão ambiental do possível impacto da aquicultura no país está sendo ignorada”.
Em 2021, pesquisadores brasileiros já falavam sobre o problema numa carta publicada numa das mais importantes revistas científicas do mundo, a Science. Naquele ano, a Secretaria da Pesca tinha anunciado um decreto para impulsionar a aquicultura, implementando a criação da tilápia do Nilo em 60 dos 73 reservatórios do Brasil.
“Os políticos estão contando com a ideia equivocada de que se a tilápia do Nilo escapar, peixes selvagens iriam atacá-la e elas não se reproduziriam nas profundezas dos reservatórios. No entanto, há muitas evidências mostrando que uma vez que a tilápia do Nilo escapa, sobrevive, reproduz, estabelece populações e provoca danos ambientais”, explicaram então os especialistas.
Vitule afirma que o risco do impacto da adaptação e aumento da população de tilápias no mar é alto. “Ela tem um histórico de alto impacto em outras áreas do mundo e está sendo introduzida num ecossistema diferente”.
Via Conexão Planeta