O município brasileiro com o maior número de comunidades quilombolas do País, Alcântara, no Maranhão, é hoje palco de uma disputa que contrapõe interesses econômicos e sociais. São 156 comunidades quilombolas certificadas no Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), com cerca de 3,3 mil famílias e aproximadamente 22 mil pessoas. Dessas, 700 famílias estão no raio de expansão necessária caso o Congresso avalize o Acordo de Salvaguardas Tecnológicas (AST) firmado com os Estados Unidos, em março deste ano.
Esse pacto permitirá o uso da base espacial de Alcântara, construída nos anos 80 pelos EUA em troca do direito de acesso à tecnologia usada pelos americanos em mísseis, foguetes, artefatos e satélites. Apesar de exigir o aval do Congresso, o AST já é visto com grande preocupação por defensores de direitos humanos e a comunidade de Alcântara.
Responsável pela Coordenação Nacional de Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), Biko Rodrigues, afirma que acolher esse pacto Brasil-EUA vai mexer com a vida de famílias que, nos anos 80, já passaram por um “duro e violento” processo de desalojamento.
“Na época, criou-se um caos social que ainda existe. Tomou-se dos quilombolas a melhor região de pesca para a área militar. Chega-se ao cúmulo de, quando esposas de militares estão na praia tomando sol, os quilombolas nem sequer poderem acessar a praia. Virou propriedade privada”, relatou Rodrigues.
O trecho geográfico a que o coordenador quilombola se refere foi alvo de um processo remoção de 321 famílias entre 1986 e 1988 por conta da instalação do Centro de Lançamento de Alcântara. Nem todo o espaço é tomado pela base, mas devido a uma margem de segurança, as comunidades que ali estavam foram removidas.
De acordo com o coordenador da Conaq, hoje a maior entidade que representa os quilombolas no País, as pessoas que ali estavam foram transferidas para vilas no entorno do município de Alcântara. “Acontece que as casas que se construíram ali pra aqueles quilombolas não tinham o roçado e nem acesso à pesca, que era a forma como eles viviam. Eram depósitos humanos; eles tinham que produzir o próprio alimento. Teve quem chegou a morrer de depressão por ter sido retirado o seu vínculo com a terra. Outros não aguentaram, fugiram e hoje vivem de forma precária, submetidos a subempregos, na periferia de São Luís”, contou Biko Rodrigues. Com informações do site HuffPost.
Via PE Notícias