qui, 19 setembro 2024
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A cerâmica indígena que ainda resiste pelas mãos das mulheres de Tacaratu

Foto: Ana Araújo

Iriemos hoje viajar ao passado no túnel do tempo do Blog PN Petrolândia Notícias, o ano é 2018, o jornal espanhol EL PAÍS publicou uma reportagem sobre as loceiras de Tacaratu, que retrata a tradição milenar de produção de louças das indígenas Pankararu no sertão pernambucano. A reportagem destaca o livro da fotógrafa Ana Araújo, intitulado “As Loceiras de Tacaratu “, que retrata a técnica ancestral de fabricação de peças de cerâmica utilizando argila, água e fogo.

De acordo com informações, a tradição das loceiras de Tacaratu remonta a séculos, quando os indígenas Pankararu dominavam o território e utilizavam as louças em seus rituais e cerimônias. Com o passar dos anos, a técnica foi sendo transmitida de geração em geração, e atualmente, as loceiras ainda mantêm viva a tradição, apesar das dificuldades enfrentadas.

A produção de louças de barro é um processo longo e minucioso, que envolve diversas etapas, como a coleta da argila, a modelagem das peças e a queima no forno. Além disso, as loceiras precisam lidar com a escassez de matéria-prima e com a falta de apoio e incentivo por parte das autoridades.

No entanto, o livro de Ana Araújo e a reportagem do EL PAÍS ajudaram a dar visibilidade para a arte das loceiras de Tacaratu e para a importância da preservação das tradições culturais e do patrimônio imaterial brasileiro. A reportagem também ressalta a relevância das mulheres indígenas na manutenção da cultura e na valorização das artes e ofícios tradicionais.

Em resumo, a reportagem do EL PAÍS sobre as loceiras de Tacaratu destaca a importância da tradição milenar de produção de louças das indígenas Pankararu no sertão pernambucano, e como essa técnica ancestral é transmitida de geração em geração. Além disso, a reportagem evidencia as dificuldades enfrentadas pelas loceiras para manter a tradição viva e destaca a relevância das mulheres indígenas na valorização das artes e ofícios tradicionais.

1. Por meio das fotos, Ana Araújo conta mais de 30 anos de pesquisa documental sobre as ‘loiceiras’ de Tacaratu, cidade natal da fotógrafa, no sertão de Pernambuco. Ela explica que o termo ‘loiça’ é “uma herança do português castiço, falado no Brasil colonial, sendo corretas, na língua portuguesa de hoje, as duas denominações: ‘loiça’ ou louça; ‘loiceira’ ou louceira”. No livro, a fotógrafa escolheu utilizar somente o termo ‘loiça’, e, consequentemente, ‘loiceiras’, como é falado em Tacaratu. 

ANA ARAÚJO

2. A fotógrafa escolheu incluir algumas imagens em preto e branco para tratar também da própria história da fotografia, da analógica para a digital. Nesta imagem, o povo indígena Pankararu usa as ‘loiças’ no almoço do ritual Menino no Rancho, na Aldeia Brejo dos Padres, em Tacaratu.

ANA ARAÚJO

3. A fotógrafa tem uma relação afetiva e familiar com as ‘loiceiras’, já que nasceu e viveu em Tacaratu até os 14 anos. Anualmente, ela volta à cidade, onde produz novos registros. Na foto, o processo manual de modelagem da louça por Antônia Inês da Conceição, ‘Tônia Loiceira’, no sítio Altinho, em Tacaratu, em 1994. Ana conta que começou seu trabalho retratando ‘Tônia Loiceira’, que é uma das principais personagens do livro. “Dona Tônia faleceu em abril de 2012, aos 81 anos”, conta ela.

ANA ARAÚJO

4. As louças produzidas em Tacaratu são herança da tradição dos indígenas Pankararu e até hoje são encontradas em forma de panelas, potes, tachos e outras peças de barro. Na imagem, Antônia Inês da Conceição, a ­’Tônia Loiceira’ e sua neta Adriana Bezerra, aos 8 anos, na feira de Tacaratu, em 1988.

ANA ARAÚJO

5. A modernidade trouxe para os utensílios de cozinha outros materiais e as panelas de alumínio tomaram o lugar das tradicionais cerâmicas. “Por causa desta demanda quase inexistente pelas ‘loiças’, atualmente só restam em atividade quatro descendentes da mestra Tônia e dez ‘loiceiras’ nas aldeias indígenas Pankararu do Brejo dos Padres e da Tapera”, conta Ana Araújo. “Todas elas deixaram de vender nas feiras e hoje apenas produzem ‘loiça’ sob encomenda”. Na foto, ­técnica de manufatura das ‘loiças’ mantida com originalidade, conforme a tradição Pankararu, por ‘Tônia Loiceira’, em 2002.

ANA ARAÚJO

6. Três gerações de ‘loiceiras’: ‘Tônia Loiceira’, a filha Naíde Antônia de Lima Santos (‘Nida Loiceira’) e a neta Maria Auxiliadora Lima (‘Cila Loiceira’), em 2007.

ANA ARAÚJO

7. Graças à força e à resistência da cultura indígena, as ‘loiças’ continuam presentes nas festas e celebrações Pankararu, explica a autora. Na foto, um ritual Pankararu com os ‘Praiá’ (intermediários espirituais entre os homens e os ‘encantados’, entidades indígenas representativas do sagrado Pankararu), fazendo uso das ‘loiças’, em 2016.

ANA ARAÚJO

8. ‘Loiças’ de Maria Aciole Barbosa, a ‘Maria de Dion’, em Aldeia Brejo dos Padres, terra indígena Pankararu, em Tacaratu. ‘Maria de Dion’ é uma das que fazem questão de manter viva a tradição, explica Ana em seu livro. Ela pinta suas peças com giz branco da Serra do Sorongo e com toá, ou tauá, uma pedra de um intenso vermelho terra. “Esses elementos naturais estão também na pintura corporal dos índios”, diz a fotógrafa.

ANA ARAÚJO

9. Detalhe da pintura com toá (pedra vermelha) e giz branco, na ‘loiça’ de Maria Aciole Barbosa, ‘Maria de Dion’. ANA ARAÚJO

10. ‘Loiceira’, Maria Aciole Barbosa, ‘Maria de Dion’, 60, na Aldeia Brejo dos Padres, Terra indígena Pankararu.

ANA ARAÚJO

11. A capa do livro ‘As loiceiras de Tacaratu – a arte milenar das mulheres do meu sertão’, de Ana Araújo. As vendas, a princípio, estão sendo feitas pelas redes sociais, nas páginas ‘As Loiceiras de Tacaratu’, no Facebook e @fotoanaaraujo, no Instagram.

QUEM É ANA ARAÚJO?

ANA ARAUJO, brasileira de Tacaratu, no sertão pernambucano (1966), é fotógrafa e jornalista graduada pela Universidade Católica de Pernambuco (1988). Iniciou a carreira na imprensa sindical, nos movimentos sociais e na Folha de Pernambuco (1988 – 1989). Fotografou para as sucursais no Recife, da Folha de S. Paulo, Jornal do Brasil e O Estado de S. Paulo (1989 – 1990). Em Brasília, trabalhou em assessoria de imprensa na Câmara Federal (1991­ – 1992), como repórter-­fotográfica no Jornal de Brasília (1992 – ­1994) e na sucursal da revista Veja (1995­ – 2009). Foi homenageada na 5a Mostra Fotográfica dos Profissionais Credenciados na Presidência da República, no Palácio do Planalto (1999). Atuou no corpo docente da cátedra Victor Civita, uma cooperação entre a editora Abril e a UNB (Universidade de Brasília), na disciplina Fotojornalismo (2007­ – 2008).

Em São Paulo, recebeu cinco prêmios Abril de Jornalismo (1998 – 2006) e o 7o Troféu Mulher Imprensa ­ – Fotógrafa de Jornal e Revista (2010). Participou das exposições e livros: “Brasil – 100 Fotógrafos Retratam o Cotidiano do País em 24 Horas” (1999 – ­2000), em Brasília, e “Fotografia em Revista – As Melhores Fotos em 60 anos da Editora Abril” (2009­ – 2010) em S. Paulo e Brasília. Com o coletivo feminista que integra, fez parte das exposições “As Donas da Bola” (2014­ – 2015), em S. Paulo, sobre o futebol feminino no Brasil e “Se me vejo, me veem” (2015­ – 2016), em Paraty (RJ), que denunciou a violência contra as mulheres. Também atua como arte­-educadora em oficinas de fotografia nas escolas públicas e comunidades quilombolas, desde 2012. Como produtora cultural, idealizou e é coordenadora, na sua cidade de origem, da Prosa – Projetos para o Semiárido (2005), entidade gestora do “Arca das Letras”, programa de incentivo à leitura com 23 bibliotecas rurais, e do Ponto de Cultura – Tacaratu Filhos da Terra (2012) que foi um dos projetos de inclusão digital, comunicação e artes visuais vencedores do prêmio “Pontos de Mídias Livres”, do Ministério da Cultura (2015). Também concebeu e coordena a Fotofeira Livre (2018), uma iniciativa de economia criativa que reúne e comercializa as obras de 30 fotógrafos, no Recife.

É autora dos fotolivros “As Loiceiras de Tacaratu – A Arte Milenar das Mulheres do Meu Sertão” (2018) e “Pankararu – Identidade, Memória e Resistência (2021), ambos aprovados pelo edital Funcultura do Governo de Pernambuco e frutos de uma extensa pesquisa etnográfica de 34 anos sobre a resistência cultural da cerâmica utilitária de tradição indígena do povo Pankararu, dos rituais da sua cosmologia e a luta pelo seu território. No contexto da pandemia da Covid19, realizou a exposição virtual “Memórias Fotográficas do Isolamento – A Beleza e a Dureza da Luz e do Tempo” (2020­ – 2021), com incentivo da Lei Aldir Blanc PE. Sua obra e biografia estão presentes no livro “Fotógrafas Brasileiras – Imagem Substantiva” (Grifo, 2021), de autoria de Yara Schreiber Dines, antropóloga, professora e pesquisadora da USP – Universidade de São Paulo. A publicação mostra o trabalho de 60 fotógrafas do Brasil, desde 1910 aos dias atuais.

Por Redação | Reportagem do EL PAÍS: https://brasil.elpais.com/brasil/2018/05/31/album/1527780124_810341.html#foto_gal_1

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